
As professoras representam uma minoria em seis das nove grandes áreas do conhecimento, de acordo com dados apresentados pela CAPES. Mesmo nas áreas onde predominam — Saúde e Linguística, Letras e Artes —, a presença feminina não ultrapassa 60%. Por outro lado, homens representam mais de 70% do quadro docente em Engenharias e Ciências Exatas e da Terra. Os dados foram divulgados durante um evento promovido pelo Centro de Estudos Miguel Murat de Vasconcellos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na última quarta-feira, 26 de março.
Homens dominam o quadro docente, mesmo com maior presença feminina entre pós-graduandos
Ainda que as mulheres sejam maioria entre os pós-graduandos, figurando como líderes em seis grandes áreas do conhecimento, e conquistem mais títulos de mestrado (desde 1998) e doutorado (desde 2003), a desigualdade persiste no quadro docente. Atualmente, as mulheres representam apenas 44,8% dos pesquisadores no Brasil.
Esse cenário se agrava quando consideramos que grande parte da pesquisa no país está concentrada nas universidades públicas e programas de pós-graduação, onde os homens seguem dominando os cargos mais altos.
O “efeito tesoura”: a barreira contra mulheres em cargos de destaque
A presidente da CAPES, Denise Pires de Carvalho, destacou o que ela descreveu como “efeito tesoura”, que simboliza a drástica redução da presença feminina nos papéis de liderança e destaque acadêmico, mesmo que elas sejam maioria entre os estudantes. “Ainda precisamos induzir que as mulheres, além de virarem doutoras, acessem a carreira de pesquisadoras e produzam conhecimento”, afirmou Denise.
O “efeito tesoura” reflete não só a desigualdade nas universidades, mas também a menor participação feminina em cargos de liderança geral e posições de maior remuneração. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a diferença salarial entre homens e mulheres chega a 30%. Essa desigualdade se agrava quando interseccionamos as desigualdades de gênero e raça, com homens brancos ocupando os cargos mais altos, seguidos por mulheres brancas, homens negros e, por último, mulheres negras.
Iniciativas para reverter a desigualdade na academia
Nos últimos anos, a CAPES tem implementado uma série de ações estratégicas para enfrentar o problema. Uma das iniciativas mais relevantes é a recriação do Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento, que investirá R$ 600 milhões em ações voltadas a grupos sub-representados na pós-graduação e na formação de professores da educação básica.
Outro exemplo é o Prêmio CAPES Futuras Cientistas, que reconhece as contribuições de pesquisadoras e pós-graduandas em áreas dominadas por homens, como STEM — Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática.
Além disso, a CAPES criou, em 2024, o Comitê Permanente de Ações Estratégicas e Políticas para Equidade de Gênero, com foco na inclusão das mulheres em áreas como Exatas e Engenharias, na promoção da equidade nas avaliações de pós-graduação e na representatividade feminina em cargos de liderança acadêmica.
O caminho para a equidade de gênero no ensino superior
Os avanços ainda são tímidos frente ao desafio histórico de incluir mais mulheres em posições de destaque na academia, particularmente em áreas com presença estrutural masculina. No entanto, ações como incentivo à formação de cientistas mulheres, programas de equidade de gênero e monitoramento constante das desigualdades podem ser passos importantes para garantir um ambiente acadêmico mais igualitário e plural.
Confira detalhes da pesquisa no Site da Capes.